Eu passei por aquela rua que eu costumava ficar horas com você... E foi estranho ver aquela mesma calçada vazia. Por segundos eu tive a impressão de te ver sentado com aquela blusa vermelha de listras brancas segurando teu violão, eu podia ir mais além as minhas impressões e dizer que você olhou para mim e sorriu. Eu fiquei meio tonta e sem cor, sacudi minha cabeça e percebi que foi apenas minha impressão, você não estava ali e a calçada da tua rua estava vazia.
Eu não resisti, eu tive que parar e ficar observando quem que estava morando ali. Mais nada era como antes, a casa me pareceu vazia e as plantinhas do canteiro estavam todas mortas, talvez porque você era a vida dali. E desde que você se foi, parece que tudo foi com você.
Eu podia garantir que não escutei nenhum passarinho cantando e que alguma coisa entrou na frente do sol que já estava quase se pondo, era de tardezinha, a mesma hora de sempre. Eu fiquei meio perdida entre as ruas, eu fui sozinha, eu precisava disso...
Eu sentei na tua calçada e chorei.
Eu me senti tão só, tão deslocada... Onde eu estava sentada já havia sido palco de tantos momentos felizes, protagonizados por tantas pessoas... Por um momento eu senti vontade de colocar o meu ouvido no chão e esperar que ele me contasse algo e me fizesse lembrar de tudo que cada grão de terra ouviu e viu dos nossos tempos antigos, de quando você estava aqui entre nós, de quando nada mais importava.
Eu perguntei pro chão se você ia voltar e ele não respondeu, mas já estava na minha hora, me levantei e fui embora. Ainda te procurei mesmo sabendo que não ia te achar. Não sei por que mais ainda tenho esperanças de você me ligar e me dizer que tudo foi um susto, que você está vivo e que vai passar aqui pra me pegar e que vamos sair por esse mundão sem horas pra chegar.